E hoje, pela primeira vez, pergunto a ela, o que você faria, Mado?
Não sei, ela responde. Mas seria extraordinário.
Foi hoje que comecei a lista.
Pág. 71
A lista dos meus desejos, de Grégoire Delacourt (Alfaguara, 152 páginas, R$ 32,90) não foi bem o que eu esperava. Pela capa, pensei que fosse algum chick lit, estilo Um bom tricô ou O próximo item da lista, mas esse livro de Grégoire não é chick lit, muito menos romance água com açúcar, e sim um retrato fiel de uma mulher de meia idade que se contenta em contar mentiras para si mesma, vive na mesmice e tem um marido do qual tem certeza que gostaria de largá-la para pegar a primeira gatinha que lhe der bola.
Jocelyne é dona de um pequeno armarinho, e divide seu tempo entre ficar nele e cuidar da casa. Ela teve três filhos com Jo (por incrível que pareça, o nome do marido dela é Jocelyn). Um morreu poucas horas depois de nascer, os outros dois são adultos e moram longe. A casa é habitada somente por ela e o marido. Para passar o tempo, ela também escreve num blog, no qual criou para tirar dúvidas das pessoas sobre crochê e similares.
Mas tudo muda quando ela joga na loteria e ganha 18 milhões de euros. Ainda atordoada, ao invés de pedir para fazerem depósito na sua conta, ela pede um cheque nesse valor. O guarda e vai fazendo sua lista de desejos. Tanta coisa que ela poderia fazer com esse dinheiro. Tanta coisa.
É como um conto de fadas a gata borralheira vira a princesa. E apesar, de não ser nenhum conto de fadas, porque descobre que o dinheiro mostra o verdadeiro caráter das pessoas, a autoestima de Jo aumenta, ela emagrece e fica bonita. E corre atrás da sua felicidade. Mesmo depois de sofrer um baque de quem menos esperava.
A leitura é direta, sem subterfúgios. Acho que isso é característica dos escritores europeus. Eles não enrolam na trama e a linguagem é crua, por isso a história é curta e focada apenas nos sentimentos de Jocelyne. Achei chatinha em algumas partes, mas compreendi o porque do livro fazer tanto sucesso na França e ter vendido mais de 400 mil exemplares. É uma história recheada de verdades.