O Clã dos Magos - Trudi Canavan



O Clã dos Magos, de Trudi Canavan (Novo Conceito, 448 páginas, R$ 34,90), me pareceu uma leitura bem juvenil. Algo que inadvertidamente já suspeitava, mas como não tem nenhuma "advertência" quanto a isso nas capas ou orelhas resolvi apostar no livro e ver o que a Novo Conceito anda aprontando por aí e é estranho que "juvenil", aqui, soe como uma insinuação de que livros juvenis são pouco relevantes ou superficiais, mas vamos adiante para que você entenda este meu preconceito velado (e se tornando explícito: apenas acho que "livros juvenis" não deveriam ser sinônimos de "livros para pessoas pouco exigentes").

Definitivamente, o livro da escritora Trudi Canavan não me agradou. Temos o evento que desencadeia toda a trama: Sonea [uma garota (e nunca fica muito evidente se garota aqui é uma menina ou uma mocinha) da cidade de Imardin, atira uma pedra num mago e acaba acertando, coisa que não deveria acontecer, já que os magos são capazes de projetar um "escudo protetor" feito de magia, que deveria ser capaz de deter objetos atirados. Ou seja: Sonea é capaz de fazer sua própria magia (e iria além: ela não é só capaz de criar a própria magia, mas de superar a magia de gente muito mais treinada, já que o escudo protetor é criado pelos magos!), coisa extremamente incomum, no contexto da trama] e depois disso, gastamos todas as duzentas e tantas páginas seguintes (metade do livro) com Sonea se escondendo cada hora num lugar, com a ajuda do amido Cery.
   
A trama é bem fraca já que não tem praticamente suspense, reviravoltas ou inserções deixadas no ar que capturem a atenção com a promessa de um desenlace futuro. Não há uma boa caracterização dos personagens, física ou psicológica [com exceção de uma ligeira (ligeiríssima!) descrição de Sonea, a autora não perde uma linha que seja descrevendo ou detalhando suas criações, o que para mim é uma tremenda falha!]. Os locais também são um completo borrão branco em suas páginas já que sabemos apenas que eles estão se escondendo nas favelas, mas isso é o quê? Será que são favelas como no Brasil? Como são as casas e as ruas? Que cheiro têm? Como se vestem as pessoas? É barulhento? Tem funk rolando? Tem "gatos" de TV a cabo nos postes?
   
Não sabemos muito bem em que tempo se passa a coisa toda, já que a capa do livro e o termo "magos" nos remete a uma fantasia medieval, mas será que é mesmo? Há pouquíssimos elementos que nos levam a dizer que sim. Há uma citação a espadas quando Fergus diz que não queria ser mago, mas espadachim, mas não há armaduras, cavalos, lama... Em vez de tabernas, há a inserção bem-vinda de neologismos como "boleria", uma espécie de taberna onde se bebe bol (acho que é algo como cerveja). Esta indefinição (ou pelo menos uma definição bem fraca) não determina o panorama em que se desenrola a trama, o que é péssimo.
   
Outra coisa é a pseudo-guilda conhecida como Ladrões... Pela boa educação que um desses ladrões, Gorin, dá ao mago Danyl (sem saber que ele é quem é: um dos magos do Clã, uma espécie de "polícia especial do rei", que realiza a limpeza da cidade), parece que são muito pouco congruentes com o arquétipo de um ladrão como o conhecemos. Será que "Ladrão", no livro, é ladrão? Ficou muito ruim!
   
Fergus, o vilão da vez, é muuuuito ruim! As consequências devido à descoberta de seus planos e a própria motivação deles é tremendamente fraca! De uma desproporcionalidade ímpar! Medíocre! Nem merece mais comentários.
   
Enfim, há muitas páginas, pouca história, uma miríade de fantasmas (os personagens são apenas esboços de gente de verdade) e locais escuros (não vemos os detalhes e não conseguimos, como leitores que somos, esboçar ideias que nos localize física e geograficamente, na narrativa).
   
Parece-me ser uma necessidade inquestionável o bom projeto de um livro, antes dele virar um objeto físico, de papel e tinta. A trama deve ser bem planejada, os fatos bem urdidos, os personagens desenvolvidos de acordo com sua importância e participação no andamento narrativo, etc. A autora ignora tudo isso e vai escrevendo sem se dar conta de que as partes pouco importantes devem ser menos longas que as partes mais importantes (para falar a verdade, não deu para ver onde a autora quer chegar em mais de 400 páginas). Não se deve perder tempo com o que não agrega conteúdo e se deve ater ao que gera interesse (Seguindo este raciocínio, o livro não deveria ter mais de 60 ou 80 páginas, por aí...). Sonea está se escondendo, Sonea está tentando controlar seu poderes, Sonea está treinando no Clã). Resumindo o livro, foi só isso! Nem pensar ler os outros que vem por aí (ao que parece, uma trilogia).

Trilogia do Mago Negro
1. O Clã dos Magos
2. A Aprendiz
3. O Lorde Supremo

ALBARUS ANDREOS
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