[Resenha] AmadorA- Fabiane Pereira



"Imagina morrer sem nunca ter trocado uma ideia com Chico Buarque. Sem ter conhecido Barcelona. Pensa na cagada que seria bater as botas sem ter ido a um show dos Rolling Stones."

Imagina? É com essa quote que eu inicio a resenha de hoje que é do livro AmadorA (Ed. Galateia, 2017, 116p.) da Fabiane Pereira. Eu me encantei com este livro lendo apenas o prefácio. Crônica é um dos meus gêneros favoritos, porque são livros geralmente leves que falam sobre o cotidiano de uma forma que nos faz refletir sobre como estamos vivendo.


Com AmadorA não foi diferente, ele é dividido em duas partes, afeto e afeta. Eu compreendi que o afeto são crônicas sobre o 'eu' da Fabiane e a afeta sobre o que afeta. Uma parte é mais autobiográfica, mas que poderia ser sobre mim ou você, enquanto a outra fala sobre coisas do cotidiano que nos afetam, como crise econômica, política, ser mil e uma utilidades, ser mulher em uma sociedade machista enfim, só temas polêmicos com uma boa pitada de bom humor.



" Esta necessidade de ser cool o tempo todo ainda vai acabar com a humanidade."

Por falar em bom humor eu amei a escrita da Fabi (fazendo a íntima já) porque é divertida, leve e a impressão que passa é que estamos sentadas batendo papo como amigas de longa data. O que me mais me fez gostar de AmadorA é porque ela fala sobre o Rio de forma totalmente desturística, ou seja, ela faz com que nos aproximemos mais da cidade com um olhar de moradores locais. Eu amo o Rio e não escondo isso de ninguém. E apesar de amar a cidade eu a acho ela absurdamente torturante no Verão, porque parece ser mais dos turistas do que dos "locais". E a crônica Outono no Rio fala exatamente sobre isso e manteve o meu coração de baianapaulistoca muito feliz. 



Por falar em feliz... Que referências musicais maravilhosas temos neste livro. Pela primeira quote já dá para perceber, mas temos Jeneci, Criolo, Nação Zumbi, Rita Lee etc de música brasileira de qualidade. Às vezes eu esqueço que gosto de músicas nacionais e isso não é de próposito, ao ligar o rádio são raríssimas as vezes que elas tocam sem ser em rádios específicas de mpb. Queria que as rádios não fossem catalogadas por tipo de música e pudesse tocar de tudo, assim como minha playlist, que é uma verdadeira bagunça. De qualidade, mas uma bagunça. 

"Meu bode cresce à medida que caminho pelas ruas e vou encontrando pessoas conhecidas - muitas, sentadas em cafés moderninhos - tentando impressionar uma nova e terceira pessoa, obviamente tão interessante quanto ela própria."

Outro texto que me representou foi Bode, compartilhamos do mesmo pensamento sobre a necessidade das pessoas serem cool o tempo todo, serem despreocupadas, frequentar os lugares mais hypados sempre. A impressão que eu tenho é que estamos vivendo dentro do Instagram, onde as cidades são perfeitas, onde todo mundo está vestido de forma 'peguei a primeira coisa que vi', mesmo que tenha demorado meia hora para montar aquele look "tô nem aí". Não julgarei pois, volta e meia acabo fazendo isso, só que tenho algo em minha defesa porque eu sempre fiz isso antes mesmo de virar modinha.  



Além desse texto eu amei todos os outros, porque eu me encontrei neles e olha que nem sabia que estava perdida. Eu li o livro inteiro em apenas quatro horas e ainda foi devagar para que não terminasse logo, pois a leitura é tão gostosa. Minha única reclamação é: um livro tão maravilhoso ser tão curto. Fabi escreve mais e logo por favor, depois de AmadorA até a sua lista do supermercado estarei interessada.


" "AmadorA" me remeteu à Cecília Meireles, "deixar-me cortar e voltar sempre inteira". Os cortes de todas nós, em maior ou menor grau, são profundos e seculares mas voltar sempre inteira, com as camadas reconstruídas, é a essência de toda "amadorA". Façamos jus ao seu significado."

Então por hoje é isso. Espero que tenham gostado da resenha, um beijo enorme e até a próxima!!



















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