Eu poderia ficar aqui falando, falando, falando, mas eu posso simplificar tudo isso e dizer apenas: Obrigada! Obrigada, por estarem comigo durante todo esse primeiro ano, comentando, dando sugestões, elogiando, obrigada mesmo, de coração! Que seja o primeiro de muitos anos ao lado de vocês!!
Olá, sou a Leticia. Como a Lailie já comentou, fui convidada
para assinar a edição de aniversário da coluna “Livros que se tornaram filmes”
e logo quando recebi o convite, pensei logo num filme que para mim representa
bem essa relação entre filmes e suas adaptações: O nome da rosa.
Sim, porque o que quero falar aqui não é uma simples
comparação livro x filme, mas sim as sensações que passei desde que descobri o livro
até o momento que vi o filme pela primeira (e única, pois esse filme é bem raro
na TV) vez.
Já aconteceu com você de ler um livro e ao ver a sua
adaptação cinematográfica, você se sente como se tudo aquilo que foi imaginado
durante a leitura se tornou real na frente de seus olhos? Acho que isso não
acontece muito, pois senão, não haveria muitas discussões sobre se o filme está
ou não à altura do livro. E muitas vezes os diretores dos filmes tem que fazer
certas mudanças porque não podem fazer determinadas cenas do modo como eram
descritas no livro, por questões de custo, locação, beleza da cena, ou até
mesmo de permissão de um local de filmagem. Um exemplo disso é a cena do jantar
em A culpa é das estrelas, que no livro é feita em um restaurante ao ar livre e
no filme em um restaurante fechado, mas lindo.
Mas O nome da rosa me
impressionou por ser bem fiel ao livro, até mesmo nas locações e nas cenas.
Todavia, para chegar a essa conclusão foi um longo caminho, que ocorreu durante
o ensino médio.
Em fevereiro de 2007, quando ainda tinha 14 anos (iria fazer
15 no mês de março daquele ano), numa das primeiras aulas de literatura do
ensino médio, que cursei em na única escola particular da minha cidade, eu vi
um trecho de O nome da rosa no primeiro capitulo da apostila de literatura
(Como ocorre em muitas escolas particulares, o material escolar era próprio da
instituição e não livros didáticos que eram usados por mais de uma escola).
Junto a este trecho, havia uma foto da cena do livro equivalente a esse trecho.
Essa cena é a da chegada de Guilherme de Baskerville e de seu assistente noviço
Adso de Melk à abadia onde se passa a história e logo Guilherme mostra as suas
habilidades detetivescas ao descrever o cavalo que tinha passado por lá ao
observar as marcas do casco na neve (numa época em que não se podia tirar
moldes das pegadas a la CSI, pois a história se passa na Idade Média).
Logo a cena me chamou a atenção para o livro e senti uma
vontade muito forte de ler, já que, por causa de CSI, já tinha lido alguns
romances policiais. E essa vontade foi logo saciada porque nessa mesma escola,
havia uma biblioteca em que encontrei vários livros, de clássicos ao mais
mainstream, de livros jovens para livros que antes eu só tinha ouvido falar de
sua versão cinematográfica. Sendo que entre esses livros que viraram filmes
estavam E o vento levou..., 007 a serviço secreto de Sua Majestade (o livro que
inspirou o único filme de James Bond com George Lazenby no papel do famoso
espião) e uma edição antiga de O poderoso chefão na época que o livro ainda era
chamado de O chefão (e antes de vários acordos ortográficos, pois nessa versão,
pode era escrito com acento circunflexo). E lá estava, em uma capa dura azul
com letras douradas, um exemplar de O nome da rosa. Logo pedi a bibliotecária
de lá, que se tornou uma grande amiga, que me emprestasse o livro.
A leitura do livro em si, demorou nove meses. Sim, não
consigo ler livros muito rapidamente e, além disso, tive que conciliar a
leitura com as tarefas do ensino médio e também com as leituras obrigatórias
desse período (Ou seja, também lidei nesse período com os clássicos da
literatura que os professores passam no ensino médio, como A moreninha,
Senhora, Memórias de um sargento de milícias, etc.), que me fizeram devolver O
nome da rosa na biblioteca algumas vezes. Mas sempre que eu o pedia emprestado,
levava o livro comigo a todos os lugares, tomando muito cuidado, já que ele era
emprestado e tinha que ser devolvido em boas condições.
E ao ler, era logo instigada pela investigação de Guilherme
sobe quem cometeu os misteriosos assassinatos na abadia e seus pensamentos, que
batiam de frente com o do monge cego Jorge de Burgos, com o do inquisitor
Bernardo Gui e de outros membros da abadia, já que Guilherme usava a dedução
para investigar as tais mortes, o que era totalmente oposto a ideia que muitos
da abadia tem em relação a mortes misteriosas, que é a de eram um castigo
divino ou até mesmo obra de bruxaria e de que o Apocalipse estava se
aproximando.
Um dos momentos de que me lembro mais desses confrontos é
quando Guilherme confronta alguém e essa pessoa, da qual infelizmente não me
lembro porque li o livro anos atrás e não tenho ele aqui na mão para poder
verificar enquanto escrevo, começa a falar do porquê os gatos pretos trazem
azar e são ligados a bruxaria e ao demônio: Simplesmente porque é possível ver
o seu anus por ser mais claro que a pelagem do gato. Tudo isso explicado por
esse personagem de forma eloquente, como se fosse feito para convencer o leitor
de que estava certo.
Além disso, vemos Adso, que aqui é como o Waston para o
Sherlock que é o Guilherme (Aliás, os nomes dos dois personagens são
referencias a Sherlock Holmes), tendo que lidar com o fato de ser um
adolescente, em um tempo que essa palavra ainda não era usada, e tendo que
lidar com a paixão que uma jovem, cujo nome não é revelado, desperta nele, já
que como noviço e futuro padre, ele deveria cumprir o seu voto de castidade. No
fundo, as mortes na abadia também significam a morte de sua inocência.
No final, todo o mistério se resume a um livro raro de Aristóteles (o único spoiler que posso dar sobre a trama do livro e do filme), cujo tema é a comédia. E por causa desse livro, milhares de preceitos e preconceitos da Igreja Católica no século XIV são discutidos e, além disso, a capacidade da informação de um livro mudar o pensamento das pessoas, motivo pelo qual na época da inquisição, a Igreja escondia do povo os livros considerados como capazes de desviar uma pessoa da fé. Assim, o livro também se utiliza de metalinguagem, já que fala também sobre livros.
Em 2009, no último ano do ensino médio, algum tempo depois
de ter lido O nome da rosa, em uma das aulas de literatura, a professora
decidiu exibir o filme em sala de aula, e eu, que já tinha lido o livro, fiquei
em êxtase, pois logo reconheci no filme tudo o que tinha lido no livro, ou
melhor, toda a estrutura e os pontos chave da história, já que se colocasse
toda a trama de um livro de quase 500 páginas em um filme, iriam ter que
dividir a trama em dois filmes.
Durante a exibição, a empolgação foi tanta que acabei
bancando um papel que não recomendo ninguém fazer no cinema ou ao assistir um
filme com amigos e familiares: A da pessoa que fica dando spoilers o tempo todo.
Só que não tinha assistido o filme antes.
Ok, antes que falem mal de mim, os meus spoilers eram sobre
quando aconteciam certas coisas no filme, por exemplo, quando o cenário para um
dos assassinatos estava sendo formado, eu simplesmente fazia uma voz
assustadora para os meus colegas de classe e dizia “Alguém vai morrer...”.
Nunca dizia quem ou onde, nem mesmo no final, onde somente avisei “Agora vão
encontrar o assassino!”.
Mas isso só foi possível devido a fidelidade que o filme tem
à trama do livro. Não sei como conseguiram resumir em um pouco mais de duas
horas todo o mistério e também os conflitos de pensamento. Um elenco
capitaneado por Sean Connery, o clássico interprete de James Bond, como
Guilherme e um jovem Christian Slater como o jovem Adso que conseguiu trazer a
vida toda a complexidade de cada personagem. Destaque para Valentina Vargas, a
atriz que interpreta a garota pela qual Adso se apaixona. Ela é a única mulher
do filme e tem um peso importantíssimo na vida de Adso, e quase não tem falas
no filme (Ok, minha memória está fraca, mas acho que ela realmente tinha poucas
falas no filme.).
Ou seja, o filme transporta o espectador para a história
criada por Umberto Eco e, mesmo que já conheça a história por já ter lido o
livro, vai se maravilhar em ver toda a trama se tornando real em frente aos
seus olhos, do mesmo modo que aconteceu comigo durante o ensino médio. E se
ainda não o leu, vai sentir a vontade de reviver a história e ao mesmo tempo,
se aprofundar nos pensamentos dos personagens ao ver o filme.
Para encerrar, uma curiosidade: No filme, Guilherme de
Baskerville é chamado de William de Baskerville, o nome que é dado ao
personagem na tradução em inglês do livro. Tanto na dublagem quanto nas versões
legenda, esse nome é mantido (Preferir chamar o personagem do Sean Connery de
Guilherme porque é a minha preferência). Isso é porque, na Idade Média, os
nomes dos sacerdotes da Igreja (Padres, bispos, frates e o Papa) eram em latim,
e quando documentos que se referiam a eles eram traduzidos, se usava para
nomeá-los a variante na língua local desses nomes latinos. Isso é feito até
hoje com os nomes dos papas, já que o nome escolhido pelo Papa é definido em
latim (Por exemplo, o Papa Francisco é chamado em francês de François; em
italiano, de Francesco e em inglês, de Francis, todas variações do nome latino
Franciscus.). Provavelmente, cada tradutor do livro levou isso em consideração
e traduziu o nome do Guilherme. Na versão original, Guilherme é chamado de
Guglielmo, variante italiana desse nome. Como o filme foi produzido em inglês,
preferiu-se a variante inglesa William, mas como esse nome é mais curto que
Guilherme, tornou-se impossível a troca de nome na dublagem, já que as falas em
português devem ter o mesmo tempo da falas originais, e a troca de nome na
legendas só faria sentido para quem já leu o livro, preferiu-se manter o nome
de William nas traduções do filme para dublagem e legendas.
Espero que vocês tenham gostado da minha dica de livro que
se tornou filme e da história que vivi ao conhecer as duas versões.
Um abraço a todos vocês, um muito obrigada a Lailie pelo
convite, e um feliz aniversário ao Menina da Bahia e a coluna da Lailie “Livros
que se tornaram filmes”!
Obrigada Leticia... Espero que tenha gostado de ser minha primeira colunista convidada. E espero que vocês tenham gostado do post da Leticia, assim como eu gostei. Posso dizer que essa experiência de estar próxima de um leitor foi muito especial e como já falei ali em cima, pretendo repetir sempre que possível.
Por fim, é isso... Um beijo enorme pra todos vocês, mais uma vez obrigada e até a próxima!