Mago: Mestre - Raymond E. Feist




Pug foi escravizado e levado para o mundo de Kelewan, onde imperam os tsurani. Sofre nas mãos de seus novos senhores, suportando toda sorte de maus tratos enquanto sonha em voltar para Midkemia. Tomas foi corrompido pelas forças do mal ancestral ao utilizar as vestes e a espada de um dos antigos Senhores dos Dragões, deixando aflorar um poder imenso, além de uma crueldade inexplicável. Esta é a história que vamos ler em Mago – Mestre (Editora Saída de Emergência, 2014), escrita por Raymond E. Feist, o segundo, e ligeiramente melhor, volume da Saga do Mago, até aqui.

Difícil dizer o quanto este livro é ou não um avanço, com relação ao primeiro, que me deixou realmente em dúvida quanto a seguir ou não esta série. Enquanto o livro 1 era apático, mal planejado, lento e infantiloide, este segundo parece ter acertado um pouco mais, concentrando-se nos dois personagens principais, esmiuçando mudanças que farão deles mais que simples mortais, mais adiante. A escrita de Feist, contudo, não se aguça, mas temos um ambiente mais sombrio, mais sangrento, onde as coisas são mais coordenadas. Deixamos de lado pontos chatos, como o namorico de Pug e Carline, e nos embrenhamos em fatos sinistros que se descortinam por detrás da história anterior.

Pug, está mais amadurecido como personagem, sem ser paparicado a todo momento por alguém, como acontece no livro anterior, sabe-se lá porquê, já que ele é um simples menino pobre que começa a aprender magia. Tomas, após encontrar as armas mágicas nas cavernas do anões começa a ser assombrado pelo seu antigo possuidor, Ashen-Shugar, e passa a expressar cada vez mais o lado maléfico que aterroriza os elfos de Elvandar, lembrando-lhes um passado sangrento que sequer ousam recordar. Enquanto isso, Arutha viaja o reino tentando arranjar reforços para resistir à invasão tsurani, mas rivais ao trono parecem não se importar tanto assim em serem conquistados. Temos muito mais ação nesse livro, o autor nos leva mais facilmente pela mão, trilhando os caminhos entre os dois mundos.

Como disse, Pug após um período de sofrimento no mundo dos tisurani, é descoberto como mago e então treinando para ser um Grande, como os tsurani chamam os feiticeiros. Ele acaba revelando grande habilidade, e aos poucos passa a sentir amor pelo novo mundo em que está. Um caso típico de Síndrome de Estocolmo no mundo da fantasia, diga-se de passagem. É um dos pontos altos do livro. O autor sabe como incutir essa mudança de mentalidade no garoto, através dos anos. Contudo, Milamber, como passa a ser conhecido, jamais esqueceu Midkemia, mas aí conhece o amor pela escrava Katala e se inteira cada vez mais nas vicissitudes da política imperialista arcaica de seu novo mundo.

Já, Tomas, segue vencendo batalha após batalha contra os invasores. Passa a sentir afeição pela rainha dos elfos e é correspondido, embora esta nutra sentimentos discrepantes relacionados à tradição élfica e a sua posição perante o reino de Elvandar. Tomas contudo cresce em prestígio ao mesmo tempo que vai cedendo ao seu lado sombrio e sanguinário. Vez ou outra vemos flashbacks mostrando a dualidade que ele assume, como Ashen-Shugar, um valheru, como era conhecida a antiga raça dos poderosos Senhores de Dragões, que se auto exterminou e libertou os elfos, que até então viviam escravizados, após a Guerra do Caos, eras antes. Os diálogos são mostrados a todo momento no enredo, fundindo os dois personagens no compasso em que eles passam a entender que “são a mesma pessoa”, só que em épocas diferentes e podem se comunicar através do tempo e espaço. É uma das partes mais interessantes do livro.

Arutha viaja o mundo na companhia de Martin do Arco após este descobrir que uma nova e definitiva invasão tsurani está para acontecer, logo depois do inverno. Ele tem que correr contra o tempo para arregimentar um novo exército que reforce as tropas de Crydee, mas ao ver as bandeiras de Bas-Tyra hasteadas nas torres de Krondor, percebe que há algo mais em jogo.

Um novo personagem nos é apresentado. Kasumi é filho de Lorde Kamatsu da família Shinzawai, senhor tsurani de Pug, que junto com forças leais ao imperador deseja restabelecer a paz com o mundo de Midkemia. Se no primeiro volume tive a impressão que os tsurani tinham feições orientais, isso muda um pouco nesse livro, apesar da evidente influência japonesa dos nomes. É que há ocasiões em que Kasumi se passa por um midkemiamo, sem que qualquer alusão seja feita aos seus olhos puxados. Como isso passaria despercebido se tivessem compleição física diferente dos midkemianos? Ou será que o autor pressupõe que as pessoas não notariam isso?

Ele planeja meticulosamente um plano que pode estancar o banho de sangue perpetrado pelo Senhor da Guerra tsurani, que reúne a maioria dos grupos dominantes ao redor de si. Se ele puder atravessar o portal entre os mundos, aberto pelos tsurani, com a ajuda dos antigos escravos, Pug e Laurie, terá uma esperança de levar a oferta de paz ao Rei Rodrick. Porém Macros, o Negro, parece ter planos diferentes.

Essa é a espinha dorsal desse romance, mas novamente temos partes do livro em que Feist insiste em contar ao invés de mostrar a história. Na minha opinião, não tem nada pior num escritor que essa péssima técnica. Páginas e mais páginas de descrições de como as coisas aconteceram, o que os outros fizeram e como se comportaram. Não consigo entender porque simplesmente não deixou a história fluir, deixando que os fatos fossem acontecendo e se contassem por si. Como no livro anterior, ele insiste em pular acontecimentos importantes, que poderiam agregar conteúdo, simplesmente dizendo que aconteceram. A inabilidade de narrar batalhas é irritante! No final do livro novamente perde um tempo danado descrevendo como foi a coroação do novo rei de Midkemia. Páginas e mais páginas se arrastam. O livro não termina nunca.

Na boa, ficamos quase pau a pau com o livro 1 – Mago Aprendiz, o que é ruim. Alguns avanços na qualidade da história se perdem quase que totalmente pela inépcia de Feist em criar expectativas, desenvolvê-las com habilidade e finalizar bem, dar voz aos personagens e criar situações bem planejadas. Os personagens são péssimos. Todos planos e iguais. Os bons momentos de Tomas com sua aproximação do valheru, e de Pug quando está em treinamento, se perdem na aridez do restante do livro. A intriga que se inicia em torno de Martin do Arco, quanto à sua paternidade, acaba não sendo bem aproveitada e o desfecho é decepcionante. Isso para não falar de Rolland, que veio e foi sem mostrar por quê. Tudo é fácil demais, todo mundo fica feliz no final e cada mocinho arranja uma mocinha para namorar (Plim-Plim).

Acho um absurdo que se diga que a BBC considerou a obra de Raymond E. Feist um dos melhores livros da língua inglesa. Só pode ser piada! Ria, se puder, dessa afirmação, insistentemente estampada nas capas dos livros da série. A Saga do Mago segue fria, e sem mostrar tendência para esquentar. Quase nada me faz recomendar esse livro. Fraco pacas, uma escrita arroz com feijão, mas que pode ser ainda uma boa pedida para leitores mais jovens e pouco exigentes. Atenção livreiros, mudem as pilhas dos livros de Feist da seção de Fantasia/ Infanto-juvenis, para a de livros infantis!

Mago Mestre perde em inteligência para obras de fantasia similares, nessa faixa etária, como Harry Potter (Ed. Rocco) de J. K. Rowling, O Caldeirão Negro (Ed. Objetiva), de Lloyd Alexander, Percy Jackson (Ed. Intrínseca) de Rick Riordan ou até mesmo Deltora Quest (Ed. Fundamento), de Emily Rodda, muito menos pretensiosa. Não perca seu tempo, caro leitor, pois Mago Mestre, de Raymond E. Feist é tão Aprendiz quanto seu antecessor.


A saga do Mago

2. Mago-  Mestre
3. Mago - Espinho de prata













PhotobucketRSS/Feed - Receba automaticamente todos os artigos deste blog. Clique aqui para assinar nosso feed. O serviço é totalmente gratuito.