Todo dia - David Levithan


"Acordo. Imediatamente preciso descobrir quem sou. Não se trata apenas do corpo - de abrir os olhos e ver se a pele é clara ou escura, se meu cabelo é comprido ou curto, se sou gordo ou magro, garoto ou garota, se tenho ou não cicatrizes. O corpo é a coisa mais fácil à qual se ajustar quando se está acostumado a acordar em um corpo novo todas as manhãs. É a vida, o contexto do corpo, que pode ser difícil de entender.
Todo dia sou uma pessoa diferente. Eu sou eu, sei que sou eu, mas também sou outra pessoa.
Sempre foi assim."
Todo dia ( Galera Record, 280 páginas, R$30,00) é um livro atípico pois nos conta a historia de um personagem que não tem um corpo, não tem família, não tem amigos ou raízes. Ainda não tinha lido nenhum lido de David Levithan e comecei a ler então o livro sem saber o que esperar, literalmente.

O livro nos apresenta o personagem A que a cada dia de sua vida acorda dentro de um corpo diferente, não importando se é menino ou menina, a cada dia isso acontece sem repetições e restrições. Ele pode ser um garoto gay, uma linda negra, uma jovem suicida, um drogado, uma líder de torcida gostosa. A única regra é que A só acorda no corpo de quem possua a mesma idade que ele possui. No início do livro a sua curiosidade é logo despertada, pois como podemos conceber que alguém não possui um corpo, um lar, uma história própria?! E então vamos conhecendo as particularidades de sua existência e aos pouco nos dando conta do quanto A é inteligente, o quanto ele é experiente com apenas dezesseis anos. 
E, como acredito que pode ter ocorrido com muitas pessoas que leram esse livro, o autor me surpreendeu, pois eu que pensei que seria apenas um livro leve com um tema diferente e curioso, mas fui conquistada por uma narrativa bem reflexiva que nos faz analisar o que consideramos importante para nós em nossa vida. O que de fato é a religião, o homossexualismo ou o que a sua família é para você?! Devido a A ter vivido em tantas famílias, em tantas culturas e em corpos diferentes, sob seu ponto de vista percebemos que somos seres humanos que rotulamos tudo e que nossas ações dependem muito do ambiente em que crescemos e das pessoas que convivemos.
"A bondade tem a ver com quem você é, enquanto a gentileza tem a ver com o modo como quer ser visto.”
O livro não é auto-ajuda ou apenas um guia do que é o politicamente correto ou não, longe disso, pois as mensagens estão subentendidas ao longo do livro, nos diálogos que A tem com outras pessoas, nas experiências diárias que vamos acompanhando. Ao fazer com que A acorde em uma vida diferente todos os dias, David nos fez entrar na vida de vários adolescentes com seus dilemas e dissabores tão comuns dessa idade, problemas muitas vezes tão reais que eu, você ou algo amigo já vivenciou. E isso é muito interessante de se ler.

A não entende a razão pela qual cada dia se encontra num corpo distinto, mas depois de um tempo desiste de se questionar ou entender o que acontece consigo e simplesmente decide viver o seu dia a dia. Ao acordar todos os dias ele primeiramente acessa informações básicas sobre a pessoa em que está para sobreviver o dia, mas sempre tentando não interferir na vida dessa pessoa e, principalmente, visa não se envolver afetivamente com nenhuma pessoa que passa pela sua vida temporária, pois já teve um experiência negativa em relação a isso.

"Queria que o amor conquistasse tudo. Mas o amor não conquista tudo. Ele não pode fazer nada sozinho. Ele depende de nós para conquistar em seu nome."
Tudo ocorre como de costume, até quando A se hospeda no corpo de um garoto chamado Justin e A se apaixonada pela namorada dele, a Rhiannon. E para tentar vivenciar esse amor, A passa por cima de algumas convicções e regras que ele mesmo tinha definido para si e em prol de seu bem estar, vindo a sofrer depois conseqüências por alguns atos insensatos.

O grande ponto do livro são as diferentes perspectivas que ele nos apresenta, as vidas distintas dos jovens habitados pelo ‘A’, e a maneira que cada um deles suporta sua própria carga de problemas, seja da escola, amorosos ou familiares. Assim como as experiências que o A nos passa no decorrer do livro e as suas tentativas para que sua relação com Rhiannon possa acontecer. Sinceramente dá vontade de marcar o livro todo com tantas frases e pensamentos dignos de se guardar na memória.
"Quando você experimenta algo grandioso, o momento persiste em toda a parte para a qual você olha, e quer ocupar todas as palavras que você diz."
O ponto negativo do livro é que o autor começa a nos dar uma noção do que pode ocorrer com o A, inicia uma possível explicação para que ele seja assim e confesso que descobrir isso me manteve instigada durante todo o livro, ansiando pelo seu final e uma explicação para tudo aquilo. Mas esse esclarecimento não acontece, a trama não tem um desfecho digno, e ouso dizer que não há realmente um desfecho, fiquei sem respostas e achando a direção que foi dada aos acontecimentos um pouco forçada, corrida, apenas para cumprir tabela e terminar o livro. E pelo que pesquisei não há continuação do livro, infelizmente. Contudo, acreditem em mim, isso não retirou o encanto e a boa surpresa que tive com esse livro. Vai ficar num canto especial da minha estante, pois os valores que o David quis nos passar e os ensinamentos que tive são para se levar durante toda a vida. Eu recomendo e encerro com essa frase que também reflete o que penso e acredito que aconteça!
"O momento que você se apaixona pode carregar séculos, gerações atrás de si. Em seu coração, em seus ossos, por mais bobo que saiba que é, você sente que tudo levou a isso, que todas as flechas secretas estavam apontando para este lugar, que o universo e o próprio tempo construíram isso muito tempo atrás, e agora você acaba de perceber que chegou ao local onde sempre deveria ter estado."

Bjos e até a próxima




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