Novamente, ouvi meu mantra surgir indesejavelmente na minha cabeça:
Isso não é normal. Não é assim que as pessoas normais pensam.
Mas que se dane — afinal, o que é ser normal?
Pág. 26
Imagine que você é solteira, tem 24 anos, adora namorar e ir à baladas com as amigas. Numa dessas baladas você vê o homem mais lindo da sua vida e ele está lhe encarando. Imagine que dias depois você esbarra nele e... ele está lhe convidando para sair. Depois você percebe na sua sorte grande: o cara lindo e atencioso está caidinho por você. Você começa a leva-lo para onde mora, lhe dá copias da chave do apartamento, entre outras coisas. E se esse conto de fadas não existir?
Catherine conhece Lee e ele é tudo que ela sonhou num cara, mas aos poucos ele vai reduzindo sua liberdade. Ela não pode sair com as amigas, não pode sair sem avisá-lo, não pode sair sem ele. Todo seu dia é controlado por ele. Ele não lhe devolve as chaves do seu apartamento. Começa a mexer em suas coisas sem autorização e quando ela tenta tomar a rédea de sua vida, ele começa os espancamentos e os estupros.
Desesperada, Cathy conta para suas amigas o que está vivendo. Ela só não esperava que Lee fosse esperto e já tivesse 'avisado' às suas amigas que ela estava com problemas psicológicos. Todas suas amigas achavam que ela estava louca e ninguém acreditou nela.
Ela estava sozinha e precisava fugir desse louco. Na única vez que planejou e ousou sair do país, sem ele saber, ele foi atrás dela no aeroporto e a arrastou de volta para o apartamento, a algemou, espancou, estuprou e mijou na cara dela. Ela tinha certeza que iria morrer. Certeza. Mas então uma vizinha a socorreu e ela fugiu.
A narrativa é dividida em duas partes – capítulos alternados -, passado (onde ela explica como conheceu Lee e o que ele lhe fez) e o presente. Na narrativa presente, Cathy sofre TOC (transtorno obsessivo compulsivo) e TEPT (transtorno de estresse pós-traumático). Ela todo dia confere portas, janelas e os mínimos detalhes do apartamento (antigamente Lee mexia em suas coisas e colocava fora do lugar, discretamente, para fazê-la parecer louca, daí a origem do TOC). Ela usa sapatos baixos e seu apartamento tem duas rotas de fuga. Ela vive com medo do dia em que ele a achará.
De que adiantaria correr, afinal de contas? Não tinha funcionado da última vez, e tampouco funcionaria agora. Eu teria que ficar. Teria que ficar e me preparar para lutar.Pág. 253
Cathy tem um vizinho, o psicólogo Stuart. Stuart é a única pessoa em que ela confia e não sente medo, e ele a está ajudando a lhe dar com o TOC, embora ele tenha certeza que Lee jamais retorne. Porque ninguém acredita nela quando ela diz que tem certeza que ele a está procurando?
Então, os objetos do apartamento começam a mudar de lugar. Coisas pequenas, como um garfo no lugar da colher, um botão o bolso da calça. Será que Lee retornou? Ela tem duas opções, deixar o medo dominar ou erguer a cabeça e enfrentá-lo.
No escuro, de Elizabeth Haynes (Intrínseca, 336 páginas, R$24,90), mostra o retrato da mulher que foi ao fundo do poço por causa de um homem. Que vivia na escuridão e estava lutando bravamente para encontrar a luz no fim do túnel. O crescimento dessa personagem é digno de admiração. Cathy é mais forte do que pensamos e é uma delícia acompanhar sua história e sua tentativa de se reerguer.
Quando saber que é amor e não obsessão? O que fazer quando o bicho papão mora com você?
Que livro fantástico! Devorei a leitura, fiquei viciada nele. O suspense era tanto que quase me deu falta de ar, eu ficava nervosa e com medo pela personagem principal e pensava: Ai meu Deus, será agora! Adoro leituras que mexem com a gente, que causam certo desconforto, que nos tiram da mesmice. Denso, sombrio, instigante. No escuro tem tudo na medida certa, ação, suspense e romance. Elizabeth Haynes arrasou em seu livro de estreia. Super recomendo!