O Americano Amador - J. Saunders Elmore



Somente quando meu trem deixava Lourange 
rumo a oeste em direção a Ste-Térèse compreendi 
a minha situação: um acordo tácito fora firmado,
e não havia como voltar atrás.
E, de um modo ou de outro, essa era a história da minha vida.
Pág. 29


Jeffrey Delanne é professor assistente no Liceu de Lourange, na França. A vida não anda nada fácil para ele. Ainda tem uns meses de contrato com o colégio, mas o que está ganhando não dá nem para pagar aluguel. As contas estão atrasadas e ele está para ser despejado. Quase no fundo do poço, ele aceita a dica de um amigo sobre ganhar dinheiro fácil.

Um árabe precisa de um tradutor de inglês-francês para seus negócios. Delanne só será recrutado quando necessário e ganhará, por cada ocasião, mais do que ganha num único mês no colégio. Na primeira ‘tarefa’, Delanne descobre o porque de ganhar tanto dinheiro fácil, o árabe é uma espécie gângter e o trabalho não é tão simples quanto ele pensava, ele precisa arrancar informações a qualquer custo de pessoas que ‘traíram’ o árabe.

No início, Delanne fica enojado. Quer se livrar desse serviço a qualquer custo, mas sabe que é impossível... a não ser que morra. E, à medida que o tempo passa, ele descobre certo prazer em torturar as vítimas. Ele definitivamente vendeu sua alma ao diabo. Corrompeu-se. Logo, não sabe em quem confiar, os policiais bons podem não ser o que aparentam... nem seus alunos. Ele fica bem no meio de algo maior do que esperava. Ele está no limite, talvez sem salvação.

O Americano Amador, de J. Saunders Elmore (Record, 368 páginas, R$ 44,90), não é exatamente um thriller policial. É um estudo da psicologia humana disfarçada de thriller. Chegaram a comparar com a cinematografia de Hitchcock e a escrita do Marquês de Sade. Acho que não chega a tanto. O enredo é inteligente e mordaz, de ritmo intenso. A parte política e o fanatismo domina boa parte da história - isso me incomodou, achei um pouco chatinho, mas é necessário porque explica a aversão dos franceses ao americano (os EUA estão atacando o Iraque). Os personagens foram otimamente caracterizados e Delanne é um protagonista ambíguo, ora fraco, ora dominado pelo poder de machucar sem sofrer as consequências.

Agora a coisa vai ficar feia – disse ele. – Mas primeiro tenho uma ou duas perguntas para você. Uma pequena pesquisa, apenas por curiosidade pessoal. – ele aproximou a cadeira e sentou-se, deixando a lâmina sobre os joelhos. – Você acha que há uma hora apropriada, ou justificável, para matar?
Pág. 292

Elmore foi um mestre na arte de mostrar como o ser humano é fraco e facilmente manipulável. Delanne caiu num abismo e não sabe mais como retornar à superfície. E é exatamente sobre isso que o livro trata, como um cidadão até então ‘honesto’, se vende pelas facilidades ilícitas e como ele irá conseguir resgatar sua vida novamente.

A história teve os direitos autorais comprados para o cinema, Luke Evans no papel principal. Não sei informar se já foi lançado.
Capa original, condiz bem com a história.
O famoso mercedes preto esperando Delanne sempre que o árabe precisa de um serviço.


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