Os Magos - Lev Grossman



Os Magos, de Lev Grossman (Amarilys, 465 páginas, R$ 49,00)


Resenha by Albarus Andreos:

Fantasia x Amadurecimento. Você decide...

Lev Grossman fez um trabalho magistral sobre o que é a fantasia e como as pessoas normais a encaram, primeiro quando possuem o dom da inocência e do senso mágico (que um dia todos nós tivemos) e "entendem" a fantasia. A mentalidade mágica de Freud está aqui; então as pessoas crescem e, algumas delas, simplesmente se esquecem o que é sonhar, ter um amigo imaginário e fingir ser um personagem de fantasia. Essas pessoas começam a ver no mundo real coisas mais interessantes, como o sexo, por exemplo. A música e o álcool tomam conta das preferências culturais delas e as baladas substituem de vez qualquer traço do que poderia ser entendido pelos amigos e pelo sexo oposto, como "coisas de criança". Pobres coitados...

Quentin Coldwater, o personagem principal é um geniozinho daqueles que tiram notas muito altas em todas as matérias, seu mundo é pequeno e sem graça, um dia foi apaixonado por Fillory, o mundo mágico dos livros que lia quando garoto. Ainda acha que gosta disso, mas é só aparecer a chance de deixar de ser um nerd e se integrar aos "descolados" da nova escola de magia que começa a se enquadrar num estilo mortífero de caras e garotas que rodam por aí, em roupas caras e rostos perfeitos. Quentin, embora tenha entrado numa faculdade de magia (uau!), logo assimila tudo aquilo como se tivesse entrado em medicina ou ciências contábeis. A rotina se torna mais massacrante ainda, por te experimentado a magia e ter se enjoado dela.

Mas com a conclusão do curso, parece que teremos uma reviravolta... Os acontecimentos que se sucedem são um jorro de vida nova, mas não são mais o que seriam se Quentin ainda fosse um garoto com mentalidade mágica. Ele é adulto, mais preocupado com o fim do namoro e a birra com os que o rodeiam, com o nariz empinado demais para ver o mundo mágico a sua volta. Ele recebe a maior dádiva que alguém poderia receber, mas nem se dá conta dela, por que o mundo real nunca dá uma brecha. A fantasia que se descortina é encarada com cabeça de gente grande, como se estivesse entrando num parque temático e tudo fosse feito para girar ao redor dele.

No final do livro, na página 437, temos o tipo de pessoa em que Quentin se tornou: "Eles passaram por uma ilha habitada por ferozes girafas sanguinolentas e uma criatura flutuante que os ofereceu um ano a mais de vida em troca de um dedo (oferta que a irmã aceitou três vezes). Eles passaram por uma ornamentada escadaria de madeira que descia em espiral pelo oceano e por uma jovem à deriva em cima de um livro aberto, grande como uma pequena ilha, onde ela não parava de escrever. Nenhuma destas aventuras inspirou em Quentin qualquer tipo de encantamento ou curiosidade. Ele já não tinha mais interesse naquilo."

Chega a ser irritante e anticlimático, sim. Lev Grossman nos mostra como é o encarar da fantasia por gente normal, lúcida e enjoada. Se você tivesse uma espada na mão e um monstro viesse babando em sua direção você encararia a fera? Provavelmente o guerreiro mágico que você sonhou ser um dia, sim. Mas você mesmo, aí, de carne e osso, talvez desmaiasse de medo ou então corresse feito louco para se salvar. As mocinhas dos filmes de terror, não pegam a lanterna na mão e saem de casa, na escuridão, no meio do mato para ver quem fez o barulho que ouviram? Sim, e você, sentado na poltrona do cinema se espreme de aflição e pergunta "o que essa idiota foi fazer lá fora?". É aí que Grossman deita e rola. Gente normal não entra em histórias mágicas! Os personagens de livros e filmes, sim, entram.

Resta saber por que a revisão editorial não pegou um monte de errinhos iguais e irritantes de construção gramatical. Numa quantidade enorme de vezes o texto parece escrito de forma desajeitada, com construções como na pág. 331: "...ela havia o anulado, ainda que ele não soubesse como", ao invés de "...ela o havia anulado, ainda que...", ou na pág. 341: "...Quentin teve a clara impressão de que ela estava os ignorando..." ao invés de "...Quentin teve a clara impressão de que ela os estava ignorando.", ou ainda na pág. 422: "...era como se ele só tivesse a conhecido e a amado, a amado de verdade mesmo...". (Cruz credo! Fica até difícil sugerir alguma correção. Enfim...). Será que o tradutor e o revisor da Editora Amarilys não sabem onde colocar os artigos? Isso acontece dúzias de vezes durante o livro todo, mas não peguei muitos outros erros mais, diferentes destes e dignos de nota.

Mas o brilho do livro está resguardado. Foi uma obra distópica e fascinante, na verdade. Amarga e triste, esplendidamente escrita. Ensinando que crescer não implica em perder aquele lado criança que todos nós temos. Na verdade, nos alerta para que não deixemos isso acontecer! É um livro que nos faz pensar e que nos diz que o saber muitas vezes nos rouba a inocência, como aqueles livros que nos dizem para não acreditar em Deus, que nos dão a ciência e nos tiram a fé (qual é mais útil, você decide.). Quentin é um anti-herói, um bundão (como a própria Alice, sua namorada, nos diz), alguém tão centrado na própria miséria e que olha tanto para o próprio umbigo, remoendo-se dos próprios problemas, que não vê o mundo passar ao seu redor e, paradoxalmente, muito menos as chances que a vida lhe dá de ter tudo o que sempre quis. No final, aparentemente, temos sua remissão. Um personagem de última hora parece ser um espelho em que ele se vê refletido, e se perdoa de tudo. Aí Quentin se dá uma última chance e talvez tenhamos seu recomeço, como sempre deveria ter sido. Arrebatador, impressionante, memorável.  

Vai para a lista dos melhores livros que já li na vida.

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1. Os Magos
2. The Magician King


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